Sul Realismo

debaixo de um guarda-chuva
mais veloz que um corredor
surfa a linha imaginária
sobre a linha do equador

pisoteando aquelas uvas,
cadê chacrinha alôalô?!
ouvindo a voz da Martnália
do Pelé gritando gol

sexta-feira, 25 de junho de 2010

quando a música acaba




Não. Já disse que não tem jeito. Não dá. As formas que transduzem empiricamente o estado-clima instaurado, a atmosfera multivariada, a sensação expandida e ao mesmo tempo canalizada em uma linha média diáfana que nos interliga mesmo estando nossos corpos separados por uma distância geograficamente mensurável, no entanto abstractamente indefinida, apenas apontam para a impossibilidade de expressão do que eu sinto agora. Não. Já disse que não tem jeito. Não dá. 
Estou bem. Leve e flutuante no céu como a pena de ganso branca e oscilatória que saiu voando pela janela do nosso quarto depois de se desprender do travesseiro que sob teus cabelos exalava teu cheiro morno junto com a brisa doce da manhã de outono... E era flutuante como uma melodia de jazz sua respiração no acordar suave do ritmo cool de Miles Davis, ou quem sabe, do clarinete de Benny Goodman acompanhando a voz daquela que pra mim é a mais bela das divas do jazz... (suspiro).. Peggy Lee! E e ainda assim me lembro da forma que falavas sobre a importância da imagem como significado, significante, discurso, blablablá, a metáfora em configuração gráfica articulada como esboço de uma semântica visual: "pra que palavras se podemos ver (risos) você não acha?" "bom... eu não sei... talvez eu não veja como você (risos)". Não sei como, de fato... não sei como, mas é impressionante a capacidade que tens de decifrar a imagem. E isso explica tua paixão pelo Cinema novo, pela Nouvelle vague... Enquanto meu gosto pelo Allen inversamente  denuncia o contrário, como dizias?, "essa fixação pelo verbal". Sou obcecado pela linguagem. O que não me impede de ser fã do Sganzerla.....  ........... era bom... eu sei. Que foi? Não... não fica assim... entenda... Eu juro, és a garota mais bela que já vi. Deténs o monopólio da beleza... além de uma erudição, não do tipo careta, mas do tipo livre, despojado, extremamente raro... Precisas entender... já disse que não tem jeito. Olha.. mesmo a melodia improvisada no piano.. por mais que pareça infinita.. um dia chega ao seu fim.    



ilustração: sem referências. envie o link

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